sábado, 9 de julho de 2016

Entrevista com Chimaki Kuori - Autora de Saintia Shô


Em 09/07/2016 o jornal Francês Le Monde entrevistou Chimaki Kuori co-autora de Saintia Shô, a nova estória da franquia de Saint Seiya. A autora foi convidada para o evento "Japan Expo", ocorrido entre 7 e 10 de Julho no Parc des Expositions Villepinte

Agradecimentos ao Blog Taizen Saint Seiya.

Segue a entrevista traduzida por Allan “Nicol” do Taizen Saint Seiya.

Le Monde: Qual foi sua principal dificuldade na criação de uma série feminina sobre “Saint Seiya”, um universo inicialmente muito masculino?

Chimaki Kuori: A decisão de aceitar já era uma certeza. Isso significava me lançar num trabalho exaustivo, e enfrentar o olhar crítico dos fãs habituais de um universo canônico extremamente conhecido e apreciado, sem ter certeza de como eles receberiam essa reinterpretação. O mangá original é galgado no culto da masculinidade, da afirmação do ser pela força, da demonstração de sua virilidade. Como adaptar uma versão feminina? Muitos imaginavam que Saintia Sho simplesmente substituiria os guerreiros do sexo masculino por guerreiros do sexo feminino, mas esse não é o caso. É claro que personagens masculinos reaparecem, porque a série se passa no mesmo mundo da série original. E ao mesmo tempo, as heroínas são verdadeiras guerreiras. É por isso que elas aparecem trocando golpes violentos, recebendo os impactos e sendo lançadas contra paredes. Elas são mulheres, mas combatem como homens. Não há cenas de nudez ou erotismo. Era importante para mim, porque sempre gostei de desenhar mulheres fortes.

Le Monde: Na série original, as heroínas usam máscaras, este não é o caso aqui. Como você justifica essa mudança radical, que finalmente permite que mulheres cavaleiros apareçam abertamente no mangá?

Chimaki Kuori: A ideia veio do sr. Kurumada. Nós discutimos isso juntos, duas opções foram apresentadas, todas inaceitáveis. Ou elas cruzariam o elemento mitológico de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, as máscaras dos Cavaleiros, ou todas as heroínas apareceriam ocultas. Em ambos os casos, ele não tinha nenhum interesse. Ele propôs a ideia de uma nova casta, Saintia, que são meio que vestais da deusa Atena. Como elas se relacionam com ela, não há qualquer justificativa para que elas tenham de usar as máscaras do mundo dos homens. Elas podem, portanto, assumir sua feminilidade.

Le Monde: Nos últimos anos, seja no cinema com “Ghostbusters”, ou no mundo dos jogos, onde o discurso feminista é cada vez mais ouvido, a vontade de feminização do herói vai e volta com mais e mais insistentemente. Você se sente parte desse movimento geral da cultura pop?

Chimaki Kuori: É difícil dizer para mim, porque Saintia Sho não foi criado em resposta a uma demanda específica, mas porque queríamos renovar a série, e que, sendo esta muito masculina, as mulheres eram uma boa maneira de oferecer uma nova leitura. Não houve considerações relacionadas com um engajamento ao feminismo, eu não me considero uma autora engajada, eu não estou tentando colocar as questões políticas no que eu desenho. Foi realmente uma maneira de atualizar a série.

Le Monde: Como você escolheu as armaduras de “Saintia Sho”, como Delfim e Cavalo Menor?

Chimaki Kuori: No início do projeto, o sr. Kurumada enviou-me uma lista de constelações que ainda não tinham sido exploradas. Entre elas, eu escolhi as Armaduras que pudessem ter suficientemente classe e elegância para não interferir com a feminilidade das personagens. A lista incluiu Cavalo Menor, que é o irmão mais novo de Pégaso (o herói masculino da série original) na mitologia. Foi perfeito.

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